quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Projeto atual de pesquisa 2010-2013

I Título
II Pesquisador
III Metas atingidas (bolsa PQ até 28/2/2010)
IV Grupos de pesquisa / Orientações

V Apresentação
VI Objetivos
VII Justificativa

VIII Resultados Esperados
IX Considerações metodológicas
X Bibliografia

I Título
Questões sobre a teoria platônica da imagem: percepção, nomeação e valoração.

II Pesquisador
Marcelo P. MARQUES.
Prof. Associado, Depto. de Filosofia, FAFICH, UFMG.

III Metas atingidas - Projeto em fase final de redação:
Meu projeto de pesquisa desenvolvido entre 2007 e 2009, em fase de conclusão, lida com o problema filosófico do aparecer ou da aparência na República, em suas diferentes dimensões: ético-política, psicológica, lógica, ontológica, retórica, dialética. Os textos redigidos foram formulados em torno de problemas levantados a partir de recortes textuais precisos. O trabalho de finalização tem sido o de liberar a redação final da linearidade do comentário, visando conferir aos problemas uma abrangência maior, através de formulações mais sistemáticas.
Título do projeto: Dos modos do aparecer na República. A pesquisa gerou algumas publicações parciais (comunicações orais em congressos, artigos e capítulos de livros – ver Lattes):
Poder e aparecer na cidade (livro II), 2007;
Apparaître et contrariété dans le livre IV de la République, 2009;
Entre aparecer e ser: sobre República V, 2006;
Aparecer e imagem no livro VI da República, 2009;
Ver e saber na República (livro VII), 2009 (em elaboração);
Publicação final em forma de livro: Dos modos do aparecer na cidade.

IV Grupos de Pesquisa
GFA – Grupo de Filosofia Antiga, vinculado ao programa de pós-graduação em Filosofia, da FAFICH – UFMG. Outros membros: Prof. Fernando Rey Puente e Profa. Míriam Peixoto. Orientamos atualmente cerca de 20 projetos de pesquisa em Mestrado e Doutorado, na área de Filosofia Antiga. O GFA faz parte do Grupo de Pesquisa do CNPq, do qual sou líder, vinculado à Linha de Pesquisa de História da Filosofia, FAFICH – UFMG. Neste grupo, desenvolvemos reflexões metodológicas concernentes à História da Filosofia. Sou membro do Conselho Editorial da Revista Kriterion.

NEAM – Núcleo de Estudos Antigos e Medievais, que reúne professores dos departamentos de Filosofia, Letras Clássicas e História da UFMG. Dentre outras atividades, participo do Anágnosis – Grupo de Leitura de Textos Antigos, que ajudei a fundar em 1998. Desde então, este grupo encontra-se quinzenalmente para ler textos gregos antigos no original. Sou membro do Conselho Editorial da Revista Nuntius Antiquus.

PRAGMA – Programa de Estudos em Filosofia Antiga, IFCS, UFRJ, do qual participo como pesquisador convidado. Sou membro do Conselho Editorial da Revista de Filosofia Antiga Kleos.

PROCAD – Programa financiado pela CAPES - cooperação com os grupos de pesquisa em Filosofia Antiga dos programas de pós-graduação em Filosofia da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte e UFC – Universidade Federal do Ceará. Sou membro do Conselho Editorial da Revista Princípios.

Orientações em andamento
Doutorado
1. Rubens G. N. Sobrinho – Kósmos e inteligência: os mitos de julgamento platônicos.
2. Venúncia Emília Coelho – Alegoria, mito e mimese: a palavra poética em Platão.
3. Anna Christina da Silva – O argumento religioso nas Tetralogias de Antifonte
4. Diogo Mesti da Silva – O problema da imagem na República
Mestrado
5. Bruno S. Jardim – A posição de Epicuro no debate sobre a justiça
6. Tiago E. Cicarini – A escola de Tübingen-Milano em debate: a alma e o discurso
7. George M. Almeida Jr. – A atopia do filósofo na República
8. Michel Menezes – Formas e fluxo no Crátilo de Platão (projeto em elaboração)
Graduação
9. Carla Linhares (Iniciação científica)
10. João Manini (Monitoria)

V Apresentação
Tendo pesquisado o problema da diferença na filosofia de Platão (Sofista), em suas múltiplas dimensões (antropológica, lógica, retórica e ontológica), os temas da aparência e da imagem se impõem como desdobramentos necessários.
A pesquisa sobre a aparência República mostrou que é possível atravessar criticamente as camadas de interpretação que cristalizaram a leitura de um texto clássico da filosofia ocidental. O aparecer é a dimensão onde vigora a vida política, assim como a base de onde se lançam os problemas lógicos; é perante o olhar e a valoração do outro (comunidade política) que o filósofo tem que avançar suas propostas pedagógicas e políticas, ao mesmo tempo, persuadindo (educando) e buscando a verdade sobre o psiquismo humano e a cidade, paradoxalmente, contra a cidade (dóxa) e a favor dela (pensada como a realização coletiva do bem humano no cosmo).
O projeto que me proponho para os próximos anos (2010-2012) encontra suas bases nas pesquisas anteriores: seja no Sofista, seja na República, o problema filosófico da imagem é nuclear; sua complexidade e interesse são reiteradamente reconhecidos pela crítica contemporânea.[1] Pretendo trabalhar com três diálogos articuladamente, enfocando em cada um aspectos diferentes e complementares da teoria da imagem: no Teeteto, explorar as conexões entre a problematização da percepção sensível e referência à aparição (representação) em imagem; no Crátilo, analisar a teoria do nome (linguagem) como imagem; no Filebo, propor uma interpretação renovada do papel da imagem na dinâmica psíquica da busca do prazer.

VI Objetivos
Analisar as diferentes abordagens do problema filosófico da imagem, em momentos diferentes dos diálogos platônicos, explicitando seus nexos e mostrando como as dificuldades interpretativas podem ser enfrentadas numa perspectiva unificadora, sem sacrificar as problemáticas particulares de cada diálogo.
Analisar alguns dos problemas suscitados no Teeteto, o primeiro sendo: o que dizer desta imagem, aqui e agora, presente à minha percepção? O lógos parece ser impotente para determiná-la, uma vez que não consegue sequer designá-la sem se contradizer (ela é e não é a determinação que aparece). Essa dubiedade é seu poder de engano, de perturbação. A crítica às pretensões cognitivas da percepção sensível levam tanto à explicitação da imagem enquanto falsidade e contrafação, como à inevitabilidade de se recorrer a ela para explicar a memória e o discurso. Nas segunda e terceira definições, a imagem parece ser aos poucos incorporada como elemento constitutivo da explicação da opinião verdadeira, da memória e da linguagem.
No Crátilo, discutir o alcance e a significação da tese de que o nome é imagem da coisa. Analisar os vínculos do tema da imagem com as grandes questões do diálogo: o papel das etimologias; a dimensão da ontologia mobilista; o alcance cognitivo da língua; o recurso às formas inteligíveis no desenrolar da argumentação; a alcance da analogia entre nomeação e técnica da pintura.
Interessa-me, ainda, inserir a reflexão sobre a imagem na dinâmica das relações entre desejo, representação imagética e esperança (ou expectativa), no âmbito da teoria platônica do psiquismo humano, em particular, na sua teoria do prazer, tal como é discutida no Filebo. No contexto da discussão sobre a verdade e a falsidade dos prazeres (36C-42D), contra as interpretações que tendem a desvincular o cognitivo do afetivo, e, correlativamente, o discursivo do imagético, pretendo construir uma leitura integrada dos problemas levantados nesse diálogo. O que me parece criticável, segundo Sócrates, não é tanto a falsidade do julgamento (opinativo ou proposicional), associado à imagem do prazer produzida antecipadamente, quanto um modo de viver (de se prometer imageticamente o prazer) regulado por determinadas valorações, pela postulação da possibilidade do prazer sem medida ou ainda por crenças injustificadas nas promessas de gozo (compreendido como o bem ou a felicidade) que determinam as ações.

VII Justificativa
O ponto de partida remoto da pesquisa é o estudo feito sobre o Sofista, diálogo platônico sobre o não-ser compreendido como diferença, no núcleo do qual é levantada a problemática da produção de imagens. Na tradução do Sofista, feita por Diès, em 1925, a imagem é vista como "um não-ser irreal" ("un non-être irréel"), devido ao modo como ele estabelece o texto grego e traduz a passagem 240A-B.
[2] De minha parte, acredito que a ontologia da imagem é enfrentada de modo plenamente suficiente no Sofista, segundo as exigências dialéticas pertinentes a esse diálogo.[3] A meu ver, uma formulação como a de Cornford, tributária da de Diès, produz uma situação paradoxal: ela tende a fixar o estatuto das imagens, ao mesmo tempo, reificando-as e irrealizando-as, o que me faz levantar, com Bluck,[4] as seguintes questões: o que pode significar a idéia, comum e geralmente aceita sem perplexidade, de que uma coisa é "menos real" que outra? Quais os ganhos dialéticos de tamanho equívoco interpretativo?
Tendo renovado criticamente o olhar, através das pesquisas sobre o Sofista e a República, penso que, em sintonia com um Platão séc. XXI, podemos ler o Teeteto, o Crátilo e o Filebo de um modo que, acima de tudo, faça justiça ao pensamento platônico como um todo, e que também seja fértil e entusiasmante.

Etapas da pesquisa
Etapa 1 (2010) – Teeteto - percepção
No Teeteto, entre o prólogo e a primeira definição, a discussão tematiza a maiêutica e seu resultado, opondo, quanto aos produtos da argumentação, imagem e verdade. As parteiras dão à luz, às vezes, verdades, às vezes imagens (eídola tíktei) (150B1), não sendo fácil distinguir entre elas; trata-se de verificar se o pensamento do interlocutor pariu uma imagem (eídolon) (150C2) ou mentira, ou se gerou uma verdade. Alguns interlocutores, não sendo capazes de reconhecer quem contribuiu para o parto, iludidos com relação a si próprios ou influenciados pelas companhias, preferem a mentira e as imagens (eídola) (150E7) à verdade. Finalmente, Sócrates exorta o jovem Teeteto a responder da melhor maneira possível, ou seja, examinar as coisas que tiver dito e avaliar se é uma imagem (eídolon) (151C3) ou a verdade. Por quatro vezes, imagem se define por oposição a verdade: fica claro que o registro é ontológico, ou seja, que a imagem não é a coisa (da qual é imagem) e que a segunda não se reduz à primeira (o problema reside na não-distinção entre os dois tipos de seres, coisa e imagem).
Na seqüência, a discussão sobre se a percepção sensível é conhecimento ou não é também formulada a partir da oposição à imagem, que seria então vista como algo que é desprovido de ser verdadeiro; dito de outro modo, o ser que se nos apresenta à percepção sensível é uma qualidade (o branco, por exemplo), ou seja, o componente típico da imagem; ora, a cor não é nada em si, pelo menos, não sem os olhos que a vêem, sendo, então, algo intermediário, algo que ocorre no encontro. Na referência a Protágoras, o vento aparece (faínetai) a cada um de um certo modo; donde, conclui-se que o "aparece" (faínetai), que acabou de tomar o lugar do "é", é equivalente a "perceber " (aisthánetai) (152B1-10). Aquilo que aparece (fantasia), enquanto aparecer em imagem, e a percepção sensível são o mesmo, seja com relação à cor ou à temperatura; o perceber é o critério de ser (152C1-3).
A tese segundo a qual ciência é percepção é sucessivamente posta e refutada diversas vezes. Na perspectiva de Teeteto, se ciência é percepção, toda percepção é sempre do que é e é, portanto, sempre não-mentirosa (apseudés). O aparecer reduzindo-se à percepção, e esta sendo equivalente à ciência, a fantasía seria sempre aparição (imagética) daquilo que é e do que é verdadeiro. Logo, o que aparece a cada um é sempre verdadeiro.
[5]
A primeira refutação é formulada da seguinte maneira: se todas as opiniões se equivalem, isto é, se são todas igualmente verdadeiras, não haverá mais verdade, nem ciência, nem qualquer base para se estabelecer quem sabe ou quem não sabe. Curiosamente, volta a ser feita a referência à maiêutica, segundo a qual o que alguém engendra pode ser imagem ou verdade; mas na perspectiva de Protágoras a prática do dialogar seria risível, pois não faria sentido examinar e refutar as imagens, representações (fantasias) ou opiniões que aparecessem (161E4-162A3), se todas são sempre verdadeiras. Para Sócrates, ao contrário, vale a pena examinar as imagens geradas ao longo do diálogo.
O páthos da percepção sensível individual tende a anular a alteridade, tornando indistinguíveis o verdadeiro e o falso. O que torna manifesta, por oposição, a tarefa primordial da dialética socrática que é justamente examinar e submeter à prova as fantasíai e as opiniões dos outros, para ver se são verdadeiras ou falsas. As fantasíai, questionadas na perspectiva dialética, serão objetos de exame e não são mais, agora, indiferentemente verdadeiras ou falsas; pelo contrário, devem ser consideradas como aquilo em relação a que podemos estabelecer se as opiniões são verdadeiras ou falsas. Depende de cada caso.
A partir dessas primeiras passagens do Teeteto, um vigoroso jogo dialógico (quase erístico) está lançado. A fantasía é, para Protágoras, a opinião que ocorre a alguém do fato da percepção sensível; um páthos exclusivo, próprio a cada um; aquilo que cada um representa para si próprio; aquilo que, na medida em que alguma coisa aparece a alguém, constitui nele e para ele uma representação, ou uma aparição, uma imagem (perante o olhar e, como será mostrado mais tarde, também na alma). A partir daí, na confrontação entre a posição relativista protagórica
[6] e a posição socrática (dialética), poderíamos dizer que as duas atitudes se distinguem segundo o modo pelo qual cada uma aborda a imagem. Para Sócrates, o exame das opiniões e das imagens é o ponto de partida para o exercício do discernimento (progressivo, mediatizado) que distingue o que é verdadeiro daquilo que é falso, sempre sabendo que essas aparições não podem ser a realização plena do diakrínein, mas que elas são boas ocasiões para o início do exame dialético, isto é, diacrítico e dierético.[7]
A imagem, tal como tudo mais que aparece, é marcada por um excesso de indeterminação; se ela não é sequer uma unidade, como falar dela sem usar termos que a determinem indevidamente ("branco", "algo", "este", etc.), estabilizando-a excessivamente? O problema torna-se cada vez mais complexo: é que a imagem admite, por um lado, uma certa determinação e, por outro lado, a indeterminação oposta; dizemos "é isto" mas também "não é isto", "é assim", mas também "não é nem não-assim" (de jeito nenhum - oud'houtos).
A imagem aparece então como carecendo de um ser estável, mas com alguma determinação que desafia sua apreensão; essa ambigüidade faz com que não se deixa designar facilmente. Como ela está no fluxo permanente, ao ser designada ou nomeada, é preciso escolher uma de duas opções: ou se nomeia com o fluxo, ou se interrompe o fluxo ao nomear (182D); qualquer um que disser algo da imagem será "pego" por lhe conceder uma determinação que não tem, mas que é exigida pela linguagem que a designa. Mas, mesmo sendo incompatível com as regras da linguagem (ver o modo como o Crátilo desenvolve essa questão) a imagem é algo que a língua tem que atestar ou reconhecer; é preciso (poder) falar de imagens, e, ao mesmo tempo, é preciso silenciar-se sobre elas, para não incorrer em uma fixação ou estabilização indevidas do fluxo no qual elas aparecem. Não há como mantê-las fora do âmbito da linguagem: as imagens fazem parte da experiência comum, sendo vivenciadas e designadas por todos.
[8]
No contexto da segunda definição, os interlocutores discutem se dizer o falso é opinar e dizer que uma coisa é outra, não percebendo a diferença, por exemplo, entre opinar e dizer que uma imagem é a coisa da qual é imagem (190A-C); ou, como nos sonhos, que um boi é um cavalo, que o dois é um, que o vergonhoso é nobre, etc. E ainda: se a opinião é falsa, ocorre um engano entre opiniões, hipótese discutida no contexto da imagem heurística do bloco de cera (191C-E). Pode-se supor que na alma de cada um há blocos de cera, uns mais duros, outros mais moles ou líquidos; imagem memória que é capaz de receber impressões, ou seja: recordar (reter) seria análogo a receber impressões na cera, sejam sensações ou pensamentos, como se estivéssemos imprimindo um sinete. Aquilo cuja impressão é fixada, recordamos e sabemos, enquanto sua imagem permanecer (àn enê tò eídolon autoû) (191D10); o que é apagado ou não é impresso, esquecemos e não sabemos.
No contexto da terceira definição, os interlocutores buscam um significado que se pode dar ao termo lógos. O primeiro é tornar manifesto o pensamento de alguém por meio da voz, com verbos e nomes: forma-se um tipo, uma imagem de algo, figurando sua própria opinião como num espelho ou na água (hósper eis kátoptron è hýdor tèn dóxan ektypoúmenon), pelo fluxo que sai da boca (206D1-4). É assim que a imagem passa a fazer parte constitutiva do processo da memória e, eventualmente, do conhecimento.
Podemos dizer que um grande passo foi dado desde as formulações iniciais. Ao discutirem os modos como se deve compreender a noção de explicação, os interlocutores recordam: o primeiro era um pensamento que se dá na voz, como se fosse uma imagem (tò mèn gàr ên dianoías e fonê hósper eídolon) (208C5); o segundo era o método de passar através do elemento, dirigindo-se para o todo, e o terceiro seria poder mencionar um sinal, pelo qual aquilo que se perguntou se diferencie de tudo.

Etapa 2 (2011) – Crátilo - nomeação
No início do diálogo, ao argumentar contra o relativismo do fluxo extremo (386D9-E1), Sócrates adverte que as coisas têm uma essência estável que não são apenas relativas a nós, ou seja, "as coisas não são jogadas para cima e para baixo por nossas imagens (fantásmati)" (386D9-E1), ou seja, as coisas não podem ser compreendidas apenas pelo fluxo de imagens que fabricamos delas. Essa crítica da representação imagética vem associada ao fluxo radical e à pretensão cognitiva da percepção sensível; a refutação é de fundo ético-político: se não se pode diferenciar quem sabe de quem não sabe, não se pode estabelecer quem é justo e quem não é; ora, a frónesis e sua negação são alguma coisa (386B-D). Para além das imagens, é preciso levar em conta a natureza, em si e estável das coisas.
[9]
Na seção 387D-391B, a discussão concentra-se no nome como instrumento e o nomear como um fazer objetivo, conferindo à produção da linguagem toda a racionalidade própria da técnica. É nessa perspectiva que, mais adiante, o nome será concebido como imagem (fabricada) da coisa nomeada. Assim como o instrumento é adaptado à natureza da coisa sobre a qual atua, o nome deve ser apropriado à natureza da coisa que nomeia:
Na verdade, a argumentação socrática sustenta a adequação natural do nome, mas num contexto cultural e artificial, de modo que a noção de "natural" vai aos poucos sendo re-significada como "racional". Tanto que quem tem a prerrogativa para julgar a obra do fabricador é o dialético – o que sabe usar bem, o que sabe interrogar e responder. O encaminhamento da discussão aponta para a fusão das perspectivas naturalista e convencionalista: se há um nome por natureza (racional), esse nome não é menos estabelecido (racionalmente) pelo técnico.
[10] Quanto à atribuição de nomes, algumas variáveis são discutidas (391D-394B), tais como o sujeito responsável pela atribuição (deuses ou homens; homens ou mulheres) ou o poder que tem o nome de mostrar, tornar evidente (delôo) a coisa nomeada, o trabalho da matéria fonética em favor (ou não) da significação sendo pensado por analogia com os remédios (ta fármaka).[11]
É no contexto da postulação dos primeiros nomes (a partir de 421C) que será desenvolvida a teoria da nomeação como imitação (mímesis) e do nome como imagem da coisa nomeada. A busca por um nome que não fosse composto por outros nomes indica elementos da linguagem que devessem ir além (ou aquém) da linguagem; se os primeiros nomes não têm outros nomes sobre os quais repousar, como podem significar ou esclarecer os seres que nomeiam (422E)?
Um exercício de pensamento que se tornou clássico faz a argumentação convergir para os limites da linguagem: sem voz e sem língua, como mostraríamos as coisas uns aos outros? Fazendo sinais com o corpo? Mimetizando a natureza da coisa, ou seja, tornando os corpos tão semelhantes quanto possível? (423B). Para fazer ver através da voz, devemos usar os meios fornecidos por ela: o nome passa a ser visto então como o produto de uma imitação vocal daquilo que imita; nomear é imitar com a voz; mas não do mesmo modo que a música. As coisas têm sons, formas e cores, mas o nomear não opera do mesmo modo que a música ou a pintura; o nomear visa a ousía da coisa: o imitar com letras e sílabas deve visar o (ser) em si de cada coisa, para fazer ver, a cada vez, o que é e o que não é; a diferença do nomear é que ele tem a pretensão mais elevada em termos de apreender e mostrar. É assim que, para se compreender o modo próprio de imitar pelo nome, é preciso reconhecer sua especificidade: através de letras e sílabas, fazer a imitação da essência; para atribuir nomes diferentes é preciso distinguir os seres aos quais serão atribuídos, pois é a partir dos nomes, mas não nos nomes enquanto tais, que se poderá ver os seres mesmos (423C-424D).
A atribuição de nomes passa a ser então uma relação calcada na semelhança (mas sobre um fundo de diferenciação): atribuir cada nome, segundo a semelhança do ser nomeado; atribuir um único nome ou misturar muitos. Nomear é uma operação análoga à da pintura, trata-se de distinguir e misturar tinturas (fármaka), mas cada imagem fabricada exige sua tintura própria (424E). De um único elemento relativo a uma única coisa, a muitos elementos juntos (constituindo sílabas), à reunião de sílabas (compondo-se nomes), à reunião de nomes (compondo-se expressões ou locuções predicativas). Finalmente, reunindo tudo, nomes e expressões, configura-se algo de grande, belo e total, como a pintura. Tal é a técnica onomástica (ou retórica? tanto faz o nome!), através da qual se constitui o discurso (lógos) (425A).
Assim é retomada no detalhe a analogia com a técnica, esboçada em termos gerais nas primeiras seções do diálogo. Seguem discussões sobre o nomear correto ou incorreto (falso/verdadeiro), a diferenciação entre nome e a coisa da qual ele é o nome, etc.
O nome é um tipo de imitação (mímema) da coisa. Tal como as pinturas, deve-se distribuir os nomes como fazemos com as imagens, ou seja, atribuir a imagem do homem ao homem e a da mulher à mulher (430B-C). Mas existe uma especificidade no nome-imagem: não se deve conferir à imagem todos os detalhes da coisa imitada, sob pena de não se ter mais uma imagem, mas duas coisas iguais (dois Crátilos, e não Crátilo e uma imagem de Crátilo); a correção própria à semelhança da imagem-nome é a que comporta a diferença (432B). A especificidade do signo é que ele não deve ser totalmente assimilável à coisa significada (ou ele perderia sua eficácia significante), o que abre a possibilidade do erro, da incorreção. Por outro lado, a variabilidade do signo (nome-imagem) exige que ele possa ser um signo falso (incorreto), para poder ser um verdadeiro signo.
[12] Essa dificuldade exigirá finalmente a referência ao týpos (que nesse contexto retoma as formulações anteriores, feitas em termos de fýsis e eidos).
Ao final, fica claro como Sócrates articula os dois critérios, as duas perspectivas: a noção de semelhança vai sendo conduzida do plano visual (pintura) para o plano do inteligível (significação pela nomeação); o assemelhar-se pode ser físico ou sígnico, mas a exigência é que não haja supressão do outro pelo mesmo, mas composição entre os dois, tornando-os permeáveis a ponto de o conjunto final ser um amálgama intricado de identidade e diferença, condição para o lógos significante.
[13]

Etapa 3 (2012) Filebo - valoração
No Filebo, Sócrates recorre à noção de imagem para explicar a dinâmica da valorização e da busca do prazer. A alma humana é pensada como um livro no qual um artesão escreve um discurso, gravando, assim, a memória de um objeto (processo que reúne percepções e afecções – aísthesesi / pathémata). Quando o que é escrito é verdadeiro, o resultado é uma opinião verdadeira; quando é algo falso que é escrito, a opinião formada é falsa. Mas além do artesão que escreve no livro da alma, haveria um pintor que o sucede e que desenha na alma imagens daquilo que o primeiro escreveu (tôn legoménon eikónas) (39B7).
Essas imagens ocorrem quando, tendo separado opiniões e discursos daquilo que foi percebido pela vista ou por outra percepção, vemos de uma certa maneira, em nós mesmos, as imagens do que foi opinado (julgado) e do que foi dito (tàs tôn doxasthénton kaì lekhthénton eikónas) (39C1).
Assim, as imagens das opiniões e dos discursos verdadeiros serão imagens verdadeiras (hai mèn tôn alethôn doxôn kai lógon eikónes aletheîs) (39C4), sendo que as das opiniões e dos discursos falsos serão falsas.
E o que chamamos de esperanças são discursos que estão em cada um de nós; mas sobretudo são as imagens que são pintadas (internamente) (que chamamos de esperanças) (kaì dè kaì tà fantásmata ezografeména) (40A9).

Nessas passagens, o Sócrates do Filebo introduz uma complexidade inédita na compreensão do papel da produção de imagens internas à alma. A estratégia é proposta com o intuito de se compreender a controversa noção de prazeres falsos. Sigo a tendência de interpretação
[14] que destaca aqui uma concepção axiológica da verdade, primeira com relação à dimensão proposicional, mesmo que complementar a ela. O discurso e a imagem que antecipam o prazer articulam de modo sutil as dimensões valorativa e cognitiva da percepção, dos afetos e do saber. Há uma relação privilegiada entre expectativas ou esperanças (prazer de antecipação) e as imagens produzidas internamente: os discursos, na medida em que constituem as esperanças, condicionam as imagens, onde a esperança reside. Seria próprio da imagem do prazer revelar (imageticamente ou "visualmente", como se fosse) os conteúdos do pensamento ou da opinião que antecipa o prazer. A imagem produzida na alma (pintada pelo pintor)[15] presentifica o prazer antecipado (em imagem); portanto, é assim que ela estabelece vínculos entre presente e futuro, prometendo algum prazer. O problea é que a imagem tende a se impor univocamente à alma que a representa, pois, enquanto tal, não se oferece como discutível ou questionável discursivamente. A imagem tende a fazer a afetividade ou o prazer parecerem unívocos, destituindo-os de suas ambigüidades.
A falsidade da imagem residiria na promessa que ela significa enquanto valor posto (ou representado imageticamente); o prazer pode não ser o que a imagem promete, e, assim, o papel da imagem é fazer com que o sujeito imaginante espere que seja mesmo tal como imagina. As opiniões são amplificadas e o prazer prometido é como que simulado imageticamente, pela presentificação aparentemente sensível, ou seja, por seu caráter antecipatório. A imagem produzida reforça o vigor e a efetividade do valor do prazer (ou não, no caso do prazer falsamente posto); ela oferece à opinião a esperança de efetividade, de modo não discursivo, e, assim, ainda mais eficaz e persuasivo.
Ao levantar a polêmica da questão dos prazeres falsos (ou da falsidade de alguns prazeres) Sócrates visa a imagem na medida em que essa vem acompanhada de julgamentos ou valorações (é isso que é difícil de compreender, seja para o interlocutor de Sócrates, seja para nós, interpretes contemporâneos). A imagem representa favoravel e intensamente um páthema futuro; a questão levantada é se esse afeto é compatível com o que se pode discursivamente problematizar como sendo o bem da alma, ou como sendo a boa vida para o ser humano.
A questão se desdobra em outras: é preciso pensar nos riscos que implica pensar o prazer como independente, seja do seu objeto, seja do sujeito desejante, pois, na dinâmica do apetite, é como se o objeto garantisse de modo absoluto o prazer, e como se o modo como o sujeito visa seu prazer fosse indiferente à sua consecução (em vigília, dormindo, em sonho ou em estado de loucura).
Finalmente, penso que o problema do prazer falso deve ser equacionado enquanto uma questão de valoração de certos afetos (e práticas) em detrimento de outros afetos ou atividades da alma. A antecipação do prazer, diferentemente do prazer puramente fisiológico (no regime da evacuação/repleção)
[16] depende da reflexão, do esclarecimento ou da avaliação crítica com relação às suas demandas ou necessidades efetivas. O elemento novo, na reflexão do Filebo, é que o prazer e a dor só acontecem através da mediação de uma representação (aparição) em imagem. O prazer é falso porque não cumpre o que promete, na medida em que é baseado em imagens prognósticas falsas; isso deve ser pensado mais no sentido axiológico do que no plano proposicional cognitivo, ou seja, no sentido de se fazer más avaliações e julgamentos práticos, no que tange à ação e ao modo de viver.

VIII Resultados esperados
. Publicações - Pretendo reunir os textos produzidos ao longo da pesquisa em um livro (com publicações parciais anteriores), com o título: Questões sobre a teoria platônica da imagem: percepção, nomeação e valoração. (cap.1 Imagem e percepção; cap.2 Imagem e nomeação; cap.3 Imagem e prazer)
. Orientações diversas – graduação, mestrado, doutorado.
. Organização de eventos - III Simpósio de Filosofia Antiga, no âmbito do GFA – UFMG, em Maio de 2011 – Teorias da imagem na antigüidade.
. Participação em eventos – SBEC, NEAM, ANPOF, ABP, IPS, etc.
. Traduções: avançar na tradução do diálogo Sofista que já vem sendo feita há alguns anos (possível publicação Loyola/PUC-Rio); negociar os direitos para a tradução de DIXSAUT, Monique. Métamorphoses de la dialectique dans les dialogues de Platon. Paris: Vrin, 2001. (possível publicação pela Ed. Loyola); publicar coletânea de artigos fundamentais em filosofia antiga (principalmente Platão) traduzidos por professores e alunos de pós-graduação, para uso didático (Cherniss, Brisson, Capizzi, Vlastos, Dixsaut, etc. – contato Paulus, São Paulo);
. Disciplinas: graduação e pós-graduação – UFMG, UFRN, UFC; seminário de pós-graduação preparatório para o Simpósio sobre teorias da imagem; seminário Anágnosis – continuar leitura de Xenofonte;
O resultado teórico principal esperado é contribuir para a renovação da recepção da filosofia dos diálogos platônicos, no que tange a uma questão que se tornou crucial para nossa cultura / civilização: a produção, valoração e o consumo de imagens, tanto no que se refere à comunicação pública, como à estruturação da vida psíquica.

IX Considerações metodológicas
Para uma compreensão atualizada do problema filosófico da imagem, é preciso reconhecer toda a complexidade que o texto platônico lhe confere. Nos diálogos, a imagem é condenada, impugnada, elogiada e utilizada, mas não encontramos uma teoria (uma iconologia) que dê conta dela de modo sinótico. O desafio, mas também o estímulo que representa a tentativa de elaborar uma teoria platônica unificada da imagem é que os diferentes discursos sobre ela se limitam e se diferenciam reciprocamente.
[17] Estou convencido da correção de trabalhar com os três diálogos, em leitura transversal. A leitura recente, em seminários, das passagens pertinentes me provou que há convergência temática suficiente. O problema da ontologia mobilista, por exemplo, perpassa a questão cognitiva, a reflexão sobre a linguagem e, igualmente, a tentativa de postular valores estáveis que regulem a ação, movida pelo desejo e pelo prazer. Perceber, nomear e valorar são pensados como processos/operações intimamente articulados; só essa conexão permitirá vislumbrar a importância do papel operatório da imagem, nos diferentes planos. Tendo no horizonte o problema da (produção da) imagem, os movimentos dialéticos particulares de cada um dos diálogos podem, sim, caminhar na direção de sua unificação.
De um modo geral, continuo convencido de que só a abordagem histórico-filológica dos textos primários me permite renovar os problemas clássicos da filosofia platônica, através, naturalmente, do cruzamento com diferentes autores antigos: poetas trágicos, pré-socráticos, sofistas, Aristóteles, Proclo, etc. O trabalho em equipe, há mais de dez anos, através do diálogo permanente com colegas pesquisadores em Língua, literatura e história antigas tem comprovado sua correção.

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Marcelo P. Marques
Belo Horizonte, Agosto 2009.
[1] Ver, por exemplo, Annas, 2002, e a coletânea Imago in phantasia depicta, 1999;
[2] Cornford, em sua tradução do Sofista (1935), fala de um "mundo das aparências, oposto à realidade inteligível" e, com relação à imagem, de uma "espécie de irrealidade do objeto". Cornford, 1935, p.321. Para ele, em Platão, a imagem é um fantasma que não é realmente real ("not really real"); essa irrealidade contamina todo o "mundo" das aparências. O texto da referida passagem do Sofista, tal como foi estabelecido por Diès, assim como sua tradução estão na base das leituras feitas por um Vernant, que teve e tem a difusão e a penetração que sabemos. Vernant, 1975, p.133-160. Mais recentemente, Cordero faz um passo importante, em sua tradução do diálogo, re-estabelecendo o texto grego de modo renovador. Trad. Sophiste, 1993, Anexo II, p.288-290). Decisiva, atualmente, é também a crítica ao conjunto das posições de Vernant, com relação às aparências e às imagens em Platão, feita por Desclos , 2000, p.301-302. A autora problematiza de movo vigoroso a aceitação tácita segundo a qual Platão faria simplesmente equivaler imagem e aparecer a ilusão, reduzindo todo o campo do aparecer e da representação imagética a uma esfera inferior e negativa, que incluiria também a mímesis, enquanto produção humana de aparências. No mesmo sentido, Thayer mostra, por exemplo, como o problema da imagem está no âmago da conexão entre a linguagem e o pensamento e que a discussão em torno da linguagem, enquanto produtora de imagens, envolve não apenas questões epistemológicas, mas também ético-políticas. Para o autor, Platão reconhece plenamente a necessidade que tem o homem das técnicas imitativas e o quanto elas são indispensáveis na suas diferentes atividades. A crítica platônica às artes da produção de imagens envolve, fundamentalmente, uma avaliação do uso apropriado das imagens, não sua recusa sumária. Thayer, 1977, 607-618; Marques, 2006.
[3] No Hípias Maior, pergunta-se em que medida uma bela virgem é a imagem da beleza mesma? Se a beleza nos afeta e nos seduz, qual a importância de saber se ela o faz através da coisa mesma ou através de imagens? Podemos dizer que uma situação análoga acontece na quarta aporia do não-ser, no Sofista. Em reação ao lógos que define o sofista como um fabricador de imagens ele questionaria o que em geral chamamos de imagem; Teeteto faz uma lista de coisas visíveis – imagens sobre a água ou no espelho, imagens pintadas ou esculpidas - e o Estrangeiro de Eléia diz que o sofista rirá de seu interlocutor, alegando que tem os olhos fechados ou que é cego; é assim que seriam obrigados a formular a pergunta que só pode ser respondida no plano do invisível: o que é a imagem? Hípias Maior 290E; 292C; 293A; 304A; Sofista 239C89-240A6.
[4] Bluck, 1975, p.61-68.
[5] Thayer, 1977, p.604-605, atribui a Platão a idéia, presente no Teeteto, segundo a qual a percepção é infalível; que o erro não reside na experiência sensível mas nos julgamentos que são feitos dela. A essa interpretação de Teeteto 155-160 (errada, na minha opinião), ele articula a idéia que, para Platão, uma imagem é sempre verdadeira; são as opiniões que fazem com que certas imagens tornem-se verdadeiras e outras não.
[6] Em oposição à leitura de Burnyeat, Fine compreende a posição de Protágoras como um "infalibilismo" mais do que um "relativismo perceptivo". Burnyeat, 1998; Fine, 2000.
[7] Em República VII 523B-C, 524A-D, o exame dialético se inicia a partir da insuficiência da percepção: as coisas que levam a uma percepção contraditória solicitam a inteligência.
[8] Ver República X 603A-D. No Teeteto, Sócrates pensa a fantasía na contraposição a Protágoras, fazendo a antilogia da antilogia. Ao contrapor-se desse modo, ele insiste que as imagens não sejam aceitas, sem mais, como verdadeiras. Portanto, trata-se de tomá-las como objeto de exame, como suscetíveis de serem inclusive refutadas. Essa tarefa é possível porque, no jogo de oposições entre as imagens e as opiniões dos interlocutores, há diferenças que superam a mera reciprocidade redutora que as torna indistintamente equivalentes. Para além do âmbito próprio e particular de cada sujeito da percepção, busca-se o âmbito maior do diálogo ou da contraposição de representações que devem poder ser contra-estabelecidas como justas ou falsas. Faz sentido, sim, dialetizar, isto é, examinar e refutar as representações uns dos outros. Poderíamos mesmo dizer que, no contexto da digressão do Teeteto (173E), o próprio filósofo torna-se uma imagem vazia, aos olhos dos muitos: só seu corpo (mero signo) está na cidade (tò sôma mónon en tê pólei keîtai), como se ele se tornasse só a imagem (sem substância) do que realmente é, uma vez que não é conhecido ou reconhecido pelo que é de verdade. Por outro lado, seria típico do filósofo não saber lidar com o que lhe é imediatamente presente, imagens ou aparições: quando num tribunal, ou noutro lugar qualquer, é forçado a discutir sobre o que está ao pé de si ou à frente dos olhos (anankasthê perì tôn parà pódas kaì tôn en ofthalmoîs dialégesthai) (174C2-3) provoca o riso de todos. Sobre isso ver Dixsaut, 1994, p.335-345.

[9] Sigo Sedley, 2003, no reconhecimento de uma diferenciação sutil, mas efetiva, na ontologia implícita às etimologias: até 411, no contexto dos nomes divinos, há uma afirmação da relação entre movimento e repouso, alguma estabilidade é reconhecida como limite para o fluxo (ver o estudo etimológico do nome de Héstia, associado a ousía, referência estável e firme); a partir de 411, ao contrário, prevalece o mobilismo radical; mas a exploração do mobilismo é pontuada por críticas à sua falta de limites, como, por exemplo, em 414D6-9, quando Sócrates diz que se for permitido acrescentar e retirar dos nomes o que se quiser, qualquer nome poderá significar qualquer coisa
[10] Ver a discussão já no comentário de Proclo XVI-XVII.
[11] Possível referência a Górgias. Elogio de Helena.
[12] É o que Canto, 1988, chama da aporia do sémeion platônico
[13] Sofista 259E. Marques, 2006, p.306-332.
[14] Ver Bravo, 1993; Teisserenc, 1999; Bravo, 2009.
[15] Sigo, em parte, a argumentação de Teisserenc, 1999, p.290-291
[16] República IX.
[17] Canto, 1985, p.126.

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